Infecções relacionadas a cirurgia

Por Dr. Nelson de Souza Liboni e Dr. Roberto Muniz Júnior
Compartilhe:
Dentre as infecções relacionadas aos serviços de saúde, incluímos a infecção do sitio cirúrgico ou a infecção relacionada ao procedimento cirúrgico. No Brasil, estas infecções ocupam a terceira posição em frequência dentro das infecções hospitalares, ocorrendo em cerca de 10% de todos os procedimentos cirúrgicos.
Certamente que este número varia entre os tipos de procedimentos cirúrgicos e as diferentes instituições de saúde. Um hospital que caracteristicamente tem muitas cirurgias de emergências, atende politraumatizados entre outras patologias, tem por consequência, um maior número de infecções do sítio cirúrgico, visto que boa parte destas cirurgias são contaminadas ou previamente infectadas, enquanto um hospital que tem em sua maioria cirurgias limpas e eletivas tem efetivamente um número menor de infecções deste tipo.
Claramente o tipo de cirurgia impacta na chance de uma infecção a ela relacionada, porém existem outros fatores associados que impactam de forma importante, como obesidade, imunossupressão do paciente, limpeza do campo cirúrgico, controle glicêmico pré, intra e pós operatório, tempo de realização de tricotomia, colocação de material ou próteses e estado nutricional, dentre outros.
Sabemos que cada um destes fatores pode ser controlado, como por exemplo o controle glicêmico. É importante para pacientes diabéticos e mesmo não diabéticos ter sua glicemia controlada no período que antecede a cirurgia, bem como durante o procedimento e nos dias que o sucedem. A hiperglicemia ou o aumento dos níveis de açúcar no sangue é um fator diretamente associado a chance de infecção do sitio cirúrgico, cabe a equipe que assiste o paciente, e ao anestesista durante o procedimento cirúrgico monitorar e controlar a glicemia, com eventual aplicação de insulina se necessário. O próprio estresse do procedimento pode levar ao aumento da glicemia por ação de hormônios contrarreguladores de insulina, mesmo em pacientes não diabéticos.
O estado nutricional do paciente também influi diretamente sobre a chance de infecção relacionada a cirurgia, visto que uma desnutrição importante pode impactar de forma negativa o processo de cicatrização de órgãos internos e da pele, facilitando a entrada de bactérias da pele ou eventualmente a passagem material de vísceras intestinais para a cavidade abdominal. Além disso, a desnutrição também impacta da função imunológica diminuindo sua função protetora.
Imunossupressão, como por exemplo HIV/AIDS também impactam de forma importante na chance de infecção do sitio cirúrgico, e em cirurgias eletivas, é sempre preferível que estes pacientes estejam em uso de sua medicação antirretroviral com controle adequado do vírus, e com sua imunidade reconstituída.
A realização de tricotomia, ou seja, a retirada de pelos da região a ser operada também é um fator importante e deve ser realizada somente momentos antes da cirurgia com tricotomo e nunca com giletes ou barbeadores, que podem machucar a pele e permitir a entrada de bactérias.
Uma pergunta que pode surgir nesse momento é: se o médico vai fazer a antissepsia da pele com produtos adequados como clorexidina, como bactérias da pele podem penetrar na ferida operatória? Os produtos relacionados com a antissepsia da pele conseguem uma degermação eficiente, porém ela nunca é completa. A pele tem a microbiota transitória ( que é efetivamente eliminada pela limpeza cirúrgica) e a microbiota permanente, está sendo de difícil eliminação, e após o procedimento, rapidamente recoloniza a pele que foi degermada. Por isso é muito importante o cuidado com o curativo da ferida operatória, mantendo sempre limpo.
Por último, em parte dos procedimentos, quando indicados, são utilizados antibióticos profiláticos aplicados antes e durante as cirurgias, e em alguns poucos casos mantidos após o procedimento. Os antibióticos profiláticos se encarregam de diminuir ainda mais o montante de bactérias que poderia ser prejudicial ao procedimento, diminuindo muito a chance de uma infecção. Importante notar que eles não devem ser mantidos por duração maior que a indicada pelo serviço de controle infecção hospitalar, visto que podem ser responsáveis por efeitos colaterais e seleção de germes mais resistentes.
No geral, a infecção de sitio cirúrgico é uma complicação mitigável e que pode ser muito diminuída e controlada em procedimentos eletivos, porem dificilmente será totalmente eliminada, visto a pluralidade de fatores associados a essa complicação. No caso de uma infecção associada ao procedimento, recomenda-se que o infectologista acompanhe conjuntamente com a equipe para ajudar a definir o melhor tratamento.
Dr. Roberto Muniz Junior
Infectologista
Contato da clínica:
Fone: (5511) 2359-6713
End. Alameda dos Maracatins 1217. Conj 503 São Paulo