Cirurgia e Viagens Aéreas - a Medicina Aeroespacial

Cirurgia e Viagens Aéreas  - a Medicina Aeroespacial

Por Dra. Vania Melhado e Dr. Nelson de Souza Liboni

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O que acontece no voo com nosso organismo?

A medicina aeroespacial é uma especialização dentro da medicina que se destina a estudar, tratar e prevenir doenças que podem surgir em pessoas expostas à atividade aérea constante, como pilotos, aeromoças e comandantes de aeronaves, por exemplo, e também em passageiros frequentes e eventuais.

As aeronaves comerciais são pressurizadas em torno de 2.438,4 metros (8000 pés) o que propícia grande conforto e torna possível com que os seres humanos possam cruzar grandes distancia em curto espaço de tempo. Embora nesta altitude os sintomas da adaptação do corpo humano sejam pouco percebidos nas viagens de curta duração pelo individuo saudável, eles ocorrem, e estas adaptações são devido ao ar mais rarefeito da altitude da cabine do avião considerado este ambiente- Ambiente Hipobarico.
São elas:

Expansão dos Gases:Durante exposições à baixa pressão barométrica o volume de um gás normalmente presente nas cavidades do corpo ,tais como a orelha interna, seios da face e trato gastrointestinal aumentam e podem causar sintomas .
Esta dilatação é explicada pela Lei de Boyle-Mariotte,na qual em temperatura constante, o volume de um gás é inversamente proporcional a pressão barométrica, explicando assim a expansão dos gases durante a exposição à altitude.

Hipoxia Hipoxica:é o resultado da redução na tensão do oxigênio no sangue arterial e conseqüentemente nos capilares. A etiologia neste caso é a baixa tensão do gás inspirado associado à exposição à altitude.
A hipoxia é a causa mais grave dos problemas médicos que possam ocorrer e é proporcional a altitude.
Até 3048 metros (10000 pés) as adaptações do organismo humano em indivíduos saudáveis são consideradas seguras e não há necessidade de suplementação de oxigênio, porem devemos sempre considerar que os sinais e sintomas da hipoxia têm grande variação individual,podemos considerar estas adaptações proporcionais à altura.

Pós operatório e pacientes em recuperação:

Nós devemos considerar alguns riscos:

  • Pós operatório abdominal por exemplo: dilatação dos gases em 3x.
    Contraindicado o voo por 2 semanas, em média. Deve-se aguardar a recuperação do trânsito habitual do paciente, pois a presença de ar em alças, sem eliminação adequada, no pós-operatório de cirurgias recentes, pode determinar a sua expansão excessiva em voo.
  • Pós-cirurgia laparoscópica: o voo pode ocorrer assim que a distensão pelo ar injetado tenha desaparecido, e as funções do órgão operado, retornado ao normal.
  • Pós-anestesia raquidural: o voo pode causar dor de cabeça severa até 7 dias após a anestesia.
  • Após anestesia geral: sem contraindicação, desde que o paciente tenha se recuperado totalmente.
  • Pós operatório cirurgia cardíaca: hipoxemia
  • Pós operatório craniano: expansão dos gases podendo levar a hipertensão craniana. Após trauma cranioencefálico ou qualquer procedimento neurocirúrgico, pode ocorrer aumento da pressão intracraniana durante o voo. Aguardar o tempo necessário até a confirmação da melhora do referido quadro compressivo por tomografia de crânio.
  • Pós-operatório torácico:
    • Casos de pneumectomia (retirada do pulmão) ou lobectomia pulmonar recente (retirada parcial do pulmão): recomenda-se uma avaliação médica pré-voo, com determinação da normalidade da função respiratória, principalmente no que diz respeito à oxigenação arterial.
    • Casos de pneumotórax: contraindicação absoluta. Deve-se esperar de 2 a 3 semanas após drenagem de tórax e confirmar a remissão por radiografia.
  • Pós operatório oftalmológico: se houve uso de gas- expansão
  • Pós operatório ortopédico - gesso e fraturas: Se há fraturas instáveis ou não tratadas, contraindica-se o voo. Importante: considerando que uma pequena quantidade de ar poderá ficar retida no gesso, os procedimentos feitos entre 24 e 48 horas antes da viagem devem ser bivalvulados, para evitar a compressão do membro afetado por expansão normal do ar na cabine durante o voo.

Em todos estes casos o tempo de recuperação e o tempo de voo a qual ficara exposto são importantes para a decisão medica. Cada caso deve ser avaliado individualmente pelo cirurgião e equipe multidisciplinar. Muitas vezes necessário uso de anticoagulantes e meias elásticas.
Outros dados com doenças não relacionadas com cirurgias como:

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS:

  • Infecções ativas (pneumonia, sinusite): contraindica-se viagem aérea a passageiros e tripulantes, pois pode alterar as respostas fisiológicas humanas habituais ao voo.
  • Infecções pulmonares contagiosas: não devem embarcar, por risco de contágio ou piora da patologia.
  • Asma, doença grave, instável ou com hospitalização recentes: contraindica-se o voo.
  • Enfisema ou DPOC: viagens permitidas mediante avaliação médica e necessidade de O2 durante o trajeto.

DOENÇAS CARDIOVASCULARES:

Prazos podem ser alterados, a depender de avaliação médica:

  • Infarto não complicado: aguardar de 2 a 3 semanas.
  • Infarto complicado: aguardar 6 semanas.
  • Angina instável: não deve voar.
  • Insuficiência cardíaca grave e descompensada: não deve voar.
  • Insuficiência cardíaca moderada: verificar com o médico se há necessidade de utilização de oxigênio durante o voo.
  • Revascularização cardíaca: aguardar duas semanas.
  • Taquicardia ventricular ou supraventricular não controlada: não deve voar.
  • Marcapassos e desfibriladores implantáveis: sem contraindicações.

AVC - Acidente Vascular Cerebral:

  • AVC isquêmico pequeno: aguardar de 4 a 5 dias.
  • AVC em progressão: aguardar 7 dias.
  • AVC hemorrágico não operado: aguardar 7 dias.
  • AVC hemorrágico operado: aguardar 14 dias.

TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS:

Distúrbios psiquiátricos: Pessoas com transtornos psiquiátricos cujo comportamento seja imprevisível, agressivo ou não seguro não devem voar. Já aquelas com distúrbios psicóticos estáveis, em uso regular de medicamentos e acompanhados, podem viajar.

Epilepsia: A maioria dos epilépticos pode voar seguramente, desde que estejam usando a medicação. Aqueles com crises frequentes devem viajar acompanhados e estar cientes dos fatores desencadeantes que podem ocorrer durante o voo, tais como: fadiga, refeições irregulares, hipóxia e alteração do ritmo circadiano. Recomenda-se esperar de 24 a 48h após a última crise antes de voar.

GESTANTES:

Recomenda-se que os voos sejam precedidos de uma consulta ao médico. De forma geral, as seguintes medidas devem ser observadas:

  • As mulheres que apresentarem dores ou sangramento antes do embarque não devem viajar.
  • Evitar viagens longas, principalmente em casos de incompetência istmo-cervical, atividade uterina aumentada, ou partos anteriores prematuros.
  • A partir da 36ª semana, a gestante necessita de uma declaração do seu médico permitindo o voo. Em gestações múltiplas, a declaração deve ser feita após a 32ª semana.
  • A partir da 38ª semana, a gestante só pode embarcar acompanhada dos respectivos médicos responsáveis.
  • Se a gestação é ectópica, contraindica-se o voo.
  • Não há restrições de voo para a mãe no pós-parto normal, mesmo no pós-parto imediato.

CRIANÇAS: No caso de um recém-nascido, é prudente que se espere pelo menos 1 ou 2 semanas de vida até a viagem. Isso ajuda a determinar, com maior certeza, a ausência de doenças, congênitas ou não, que possam prejudicar a criança no voo.

OBSERVAÇÕES GERAIS:

Medicação – Recomenda-se levar medicação prescrita pelo médico em quantidade suficiente para ser utilizada durante toda a viagem. Os remédios devem estar sempre à mão, preferencialmente acompanhados pela receita do médico, com as dosagens e os horários em que devem ser administrados. Em caso de deslocamentos que impliquem mudança de fuso horário, o médico assistente deve ser consultado para avaliar se há necessidade de ajustar os horários de ingestão dos medicamentos.

Enjoos – As pessoas mais suscetíveis a terem enjoo durante o voo são aquelas que já o apresentam quando andam de ônibus, carro ou navio. Estas devem evitar a ingestão excessiva de líquidos, comida gordurosa, condimentos e refrigerantes, que podem facilitar seu aparecimento. Recomenda-se também, como medida de precaução, que utilizem os assentos próximos às asas do avião por ser o local de voo menos turbulento e, por conseguinte, menos propenso a induzir náuseas e vômitos.

Procurar assistência e/ou orientação médica antes do voo, caso o passageiro ou tripulante apresente:

  • Febre alta, tremores, com piora progressiva dos episódios
  • Sangue ou muco nas fezes
  • Vômitos que impeçam a ingestão de líquidos
  • Sintomas persistentes após uso de medicamentos sintomáticos
  • Sintomas, especialmente se usa diuréticos, imunossupressores ou remédios para diabetes e/ou hipertensão.

Dra. Vania E. R. Melhado
Médicina Aeroespacial
Diretora Médica da VOE
Médica Senior FAA, CANADA, EASA

www.clinicavoe.com.br
R. Baronesa de Bela Vista, 139
Vila Congonhas - São Paulo - SP
Fone: (5511) 3828-3000



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